(Des)Aventuras | Efeito holofote: as crónicas de um "eu" sozinho no Shopping

Vamos imaginar-me (sim, a mim, em carne, osso e açúcar) com um livro na mão (nada de novo) e de fones nos ouvidos, a apreciar "Don't look back in anger" num volume anormalmente alto. 

Agora, se fazem favor, obriguem-me a tirar os fones e arranquem-me o livro das mãos. Sim, atirem-me para a realidade, sozinha e desprotegida. Para rematar, coloquem-me num Shopping. Porquê? Vamos dizer que fui comprar mais um batom ou a prenda de anos daquela amiga que todos invejamos por fazer anos durante o verão.

Estou sozinha, num edifício cheio de gente. 

Pânico. 

Deixei de conseguir falar ou por a perna direita à frente da esquerda, o meu cabelo está em chamas, tenho dois metros de altura e está toda a gente a olhar para mim. 

Apresento-vos o efeito holofote.

Já não sou um ser humano. Não, neste momento, enquanto atravesso o corredor para entrar na próxima loja, pertenço a toda uma outra espécie de vida que devia limitar a sua existência à Área 51. Cada passo, cada gesto, está fora do lugar e a ser observado pelos olhos alheios de quem passa por mim.
Gosto de estar sozinha, perder-me nos meus próprios pensamentos, mas num Shopping? Não, obrigada.
Fico desprovida de toda a racionalidade, aquela que me diz que ninguém quer saber, que, como eu, todos têm tarefas a cumprir e estão preocupados com a sua própria vidinha. Sou o centro das atenções, por todas as razões e mais algumas, vários tudos e vários nadas que, na minha cabeça, fazem o maior dos sentidos. 

Não consigo evitar-lo, não consigo fugir a este desconforto voraz. Assim, prefiro adiar os compromissos da minha carteira até que alguém nos decida acompanhar na aventura. 

E vocês? Já sofreram com o efeito holofote?