quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sleep, dream, write and repeat | O "pessoal" e o "demasiado pessoal para publicar"

Photo by Nick Morrison on Unsplash

A escrita - narrativa ou não - é diretamente influenciada pela personalidade do autor, experiências e realidade que o definem. Largamos um pouco de nós em cada review, texto de opinião e deambulação que escrevemos, revendo nos personagens mais bizarros um bocadinho de nós mesmos ou da nossa verdade. 
Na blogosfera, somos inundados de novas ideias, identidades e convicções, de conteúdo que nos move e nos faz pensar acerca da nossa própria visão. Por muito que esse conteúdo espelhe o seu autor, blogs, anónimos ou não, não são diários.
Quando nos sentamos a escrever sobre o nosso dia, quando vos contamos - leitores - sobre esta e aquela experiência ou sobre um qualquer problema, surge a pergunta: Será isto demasiado pessoal para publicar?
Esta pergunta é importante por diversos fatores. 
Primeiramente, todos presamos a nossa privacidade. Por muita partilha que exista na blogosfera, nem tudo é dito ou contado. Existem momentos e impressões que guardamos só para nós mesmos, porque é doloroso escrever sobre o assunto ou simplesmente constrangedor, estamos no nosso direito de escolher o que publicar. Sometimes, it's just too much.
Tudo depende da perspetiva. Jamais publicarei um post a lamuriar-me acerca da pessoa x que me fez isto, aquilo ou aqueloutro. Por outro lado, poderei partilhar o que conviver com a pessoa x me fez compreender acerca de mim mesma, aquilo que ela me fez aprender ou como lidei com as situações (des)agradáveis que ela me proporcionou. Tudo depende a perspetiva como expomos as situações, da mensagem e objetivo do texto. 
Sim, objetivo. A blogosfera tem espaço para desabafos, para pura felicidade ou tristeza mas qual é o propósito desse género de posts? A meu ver, crescimento pessoal, tanto da parte dos autores, como dos leitores. Já li excelentes textos acerca do medo, de inseguranças, de autoestima e tantos outros temas mais pessoais. Esses textos ajudaram a alargar o meu campo de opiniões acerca das temáticas e a lidar melhor com certas situações da minha vida. Cada vez mais, existem posts de temas que dantes eram considerados tabus ou irrelevantes. Sobre doenças de foro psicológico, desigualdade, etc. Ler acerca de experiências pessoais enriquece as nossas opiniões e conhecimento sobre o mundo.
Por fim, o interesse. Qual é o interesse de escrever acerca da minha rotina matinal? Talvez se vos apresentasse os produtos que uso ou se algo de extraordinário tomasse lugar nas minhas manhãs. Não. Estas resumem-se a música demasiado alta e a uma correria desmedida. Seria interessante divagar acerca de como perdi o autocarro? Talvez do modo poético como a pasta de dentes caiu da minha escova, outra vez. Seria um post sem adesão e sem interesse. 
Assim, cabe ao autor perceber o que o deixa desconfortável. 
Amanhã, terão um texto muito pessoal acerca do meu regresso à escola, ao meu último ano de secundário e todos os sentimentos que este desperta. Porquê publicá-lo? O regresso às aulas causa (ou, em certos casos, causou) grande aparato na nossa vida. É um momento importante e, no meu caso, o fim de mais um capítulo. É uma experiência que quero partilhar e medos e inseguranças sobre as quais acho importante falar.
No fim, todos escrevemos sobre o que nos move e o conceito "demasiado pessoal para publicar" é extremamente relativo e mutável.

Qual é a vossa definição de "demasiado pessoal para publicar"?
Qual foi o post mais pessoal que partilharam? Arrependem-se?
Já deixaram algum post em rascunho depois do mortal "Será..."?

10 comentários:

  1. Eu concordo integralmente contigo :) Não seria capaz de expor a minha vida em demasia, e oculto muita coisa, para minha proteção e das pessoas que me rodeiam.
    E é como tu dizes, em vez de se partilhar que a pessoa X fez-me isto ou aquilo, é preferível abordar, em caso de se querer partilhar a situação, quais as lições que aprendemos e de que forma isso nos fez crescer.

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    1. Acho que isso e o mais importante e gratificante.
      Não só ajuda a que reflitamos sobre nós mesmos, como pode ajudar alguns leitores

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  2. Não poderia estar mais de acordo! Existem tantas vezes que penso duas vezes antes de publicar algo... Não só por ser pessoal, como pode até ser algo interessante para mim mas não para os leitores. Algo que acho que acontece imenso é que a maioria faz tudo o mesmo - reviews, filmes, look - é tudo muito idêntico (não digo por maldade porque até eu o faço) mas por vezes, quando tentamos fazer algo diferente - Como este teu post fantástico - por vezes a adesão não é tanta porque estamos habituados a ler tudo igual e mais do mesmo... Quando se faz algo diferente não é totalmente valorizado :(
    Um beijinho!!

    www.voochel.blogspot.pt

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    1. Muito obrigada pelo elogio, espero que a tua opinião se mantenha!
      Levantaste uma questão muito importante. Acho que, independentemente dos teus seguidores, deves deixar que a tua criatividade flua. Ainda que publiques algo que não origine grande adesão, o mais importante é o orgulho que sentes pelas tuas palavras. Esses posts também contribuem para o teu crescimento como blogger. É o teu blog e a tua escrita.
      Obviamente, é desanimador trabalhar, dar o nosso melhor e ter pouco (ou nenhum) reconhecimento. No entanto, lembra-te do início da tua carreira blogosférica. Não tinhas o público que tens agora , escrevias para ti e foi isso que apaixonou os teus seguidores.
      Que venham os posts diferentes e orginais. Quem sabe, poderão ser um sucesso e até trazer mais leitores.

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  3. Concordo bastante com o que aqui escreveste! Porém, no meu blogue nunca escrevo nada muito pessoal, portanto não tenho muito este problema. Mas já tenho visto, por exemplo, pessoas a escrever sobre relacionamentos que acabaram e acho que é uma maneira de conseguirem algum conforto, não sei.

    Acho que escrever sobre a pasta de dentes a cair da escova até não era má ideia! ;)

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    1. É verdade, muitas vezes não existe nenhuma mensagem em particular, simplesmente necessidade de ser ouvido.
      Cada um escreve o que o deixa confortável e há sempre quem goste de ler.
      Hahaha, vou pensar na ideia. É toda uma situação dramática.

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  4. Tudo é relativo. E o conceito «demasiado pessoal» não foge à regra, porque as perspetivas das pessoas são distintas. Além disso, focaste pontos que me parecem essenciais para explicar o motivo pelo qual se abordam determinados assuntos.
    As minhas publicações têm sempre um pouco da minha história, mesmo que seja um texto maioritariamente ficcional, ou uma música. Aquilo que procuro sempre é abordar os temas de uma forma construtiva, positiva e que de alguma forma preserve, se for o caso, a identidade de alguém que me é próximo. A partir do momento em que tenho um blogue, que é público, estou a expor-me. Eu sei isso e aceito essa condição, mas as pessoas à minha volta não têm que arcar com essa consequência, uma vez que não foi uma escolha delas. Há textos em que facilmente se percebe que falo na primeira pessoa e outros em que permanece a dúvida se, de facto, aconteceu, ou apenas recorri a um momento específico e divaguei sobre ele. Geralmente, é nos segundos que aproveito para refletir sobre determinadas situações que aconteceram, partilhando a aprendizagem que me proporcionaram. No entanto, se achar que partilhar a minha experiência, de forma clara e sem filtros, pode ajudar alguém, também não tenho qualquer problema em fazê-lo.
    O mais importante é que a pessoa se sinta confortável. Se for o caso, o «demasiado pessoal» é um pormenor.

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    1. Concordo plenamente.
      Cada um tem o direito de publicar aquilo com que se sente confortável e há que respeitar isso.
      Acho muito importante abordarmos o que quer que seja de forma construtiva.

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  5. Curioso ler esta publicação agora que ando bem ausente da blogosfera, na verdade, devido a esta questão. Comecei a questionar-me se não estaria a partilhar demais, se não estaria a colocar as minhas pessoas demasiado expostas, apesar de nem me referir muito a elas. A verdade é que precisei disto mesmo que referes: uma introspecção para conseguir entender o que é demasiado pessoal para mim. Ainda não tenho bem a certeza, mas, vontade de voltar a escrever não me falta. As palavras nadam, dançam e saltam nas pontas dos meus dedos e tenho a certeza que pouco me irá comprometer, pois, acredito em tudo o que partilho.
    Beijinhos :)

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    1. No fim, acho que deves publicar o que te deixa confortável. Não é uma questão de estar preso à uma zona de conforto, simplesmente de não comprometeres a tua privacidade.
      Às vezes, é necessário uma pausa. Espero que voltes à blogosfera e que a tua vontade de escrever se reflita em posts fantásticos!

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